22 de abril de 2012

Semana 17
Aristides, um “sempre-em-pé” que dá vida
e trabalho a cidadãos deficientes


Caminha como o “sempre-em-pé”, é manco ou “marreco”, como diz às crianças que o visitam. Elas riem, ele também. Os constrangimentos passam. Aristides Santos é um homem que emprega os da sua “raça”. Paralisia cerebral, amputados, esclerose múltipla, cegos. “Um autêntico supermercado”, graceja. Será que se pode brincar assim? Pode. Aristides faz jus à expressão “Coitadinho é corno”, aquela que usa quando lê pena nos olhos dos outros. Nos seus, há brilho. Afinal, este puto reguila de 47 anos, que anda a cavalo sem estribos, ouve nas vozes dos vizinhos: “Quero ser como o Aristides”.
Um martelo, uma mesa, três pessoas. Assim nasceu em Santa Maria da Feira, há 15 anos, a Deficiprodut, empresa de artigos feitos em pele por cidadãos deficientes. Hoje são mais de 60. “Ela vem para aqui e eu ensino-a a trabalhar. Sabe que sou de ideias fixas. Até logo”. Aristides desliga o telefone. Sim, ele é de ideias fixas. A poliomielite aos três meses e os ferros que lhe suportam as pernas nunca o fizeram parar. “Fui criado no meio dos ‘índios’, era igual a eles, se andavam a cavalo, eu andava a cavalo, se nadavam, eu nadava”, conta. Estudou contabilidade, montou um escritório. Sem clientes. Correu o Norte à procura deles. “Olhavam-me com pena, não como profissional. Ai é? Vou mostrar que sou bom”. Mostrou. Mas este “sempre-em-pé” tinha um sonho. Dar qualidade de vida a pessoas como ele. Fazer dos “mancos e marrecos” verdadeiros homens. “Aqui, ninguém está preocupado se é amputado ou surdo. Querem ganhar dinheiro e trabalhar. A empresa dá lucro e paga impostos, não é um santuário”. A missão social é o direito ao trabalho. “Querer é poder. É preciso acreditar. Eu acredito”.

Lúcia Crespo
texto e foto inéditos, 2010

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