O
que move Elias e equipa?, perguntam-me…
Talvez
a consciência de que ali, no interior de Caia no coração de Moçambique, a
diferença entre a vida e a morte pode estar tanto no arroz “mata-fome” trazido
pelo voluntário, como no curativo por ele feito ou na viagem garantida até ao
médico, o único, a uns 20 ou 30 quilómetros.
Quando
a dor aperta ou o corpo não aguenta o caminho difícil e esburacado, os cerca de
vinte rapazes e raparigas que Elias coordena vão além da assistência
domiciliária regular e gratuita a 77 doentes. É aí que colocam o paciente no
atrelado, que o tapam com mantas, que o prendem com o cinto de segurança e que
pedalam... Sobem para o selim da bicicleta-ambulância e pedalam contra a
doença, o tempo e o isolamento.
Eles
são a emergência médica, apta para todo-o-terreno. “Se não fosse assim,
simplesmente, estas pessoas em sofrimento não saíam de casa”, afirma Elias. O
improviso balança mas antes era pior. Até surgir a ideia, apoiada pelos
Serviços Distritais de Saúde de Caia e pelo Consórcio Associações com
Moçambique, os doentes “mais afortunados” seguiam para o Hospital rural de
carroça ou carrinho de mão.
A
maioria dos pacientes estão infectados pelo VIH e alguns fazem já tratamento
antiretroviral. Estamos em Sofala, um dos corredores do continente para o
Oceano, terra de passagem de camionistas e de concentração de prostitutas. Há
muito que Elias lhes diz que o prazer encerra perigos, que a camisinha salva
vidas, que o futuro começa ali mesmo. Se o ouvem? “Uns sim, outros nem por
isso!”
Se
compensa? Com oito filhos em casa e pelo menos 20 seropositivos em cada 100
habitantes nesta província que é sua, como não?
Paula
Borges,
história
inédita, 2010
Jorge
Silva
ilustração
inédita, 2010
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