18 de novembro de 2012

semana 47
112 a duas rodas


O que move Elias e equipa?, perguntam-me…
Talvez a consciência de que ali, no interior de Caia no coração de Moçambique, a diferença entre a vida e a morte pode estar tanto no arroz “mata-fome” trazido pelo voluntário, como no curativo por ele feito ou na viagem garantida até ao médico, o único, a uns 20 ou 30 quilómetros.
Quando a dor aperta ou o corpo não aguenta o caminho difícil e esburacado, os cerca de vinte rapazes e raparigas que Elias coordena vão além da assistência domiciliária regular e gratuita a 77 doentes. É aí que colocam o paciente no atrelado, que o tapam com mantas, que o prendem com o cinto de segurança e que pedalam... Sobem para o selim da bicicleta-ambulância e pedalam contra a doença, o tempo e o isolamento.
Eles são a emergência médica, apta para todo-o-terreno. “Se não fosse assim, simplesmente, estas pessoas em sofrimento não saíam de casa”, afirma Elias. O improviso balança mas antes era pior. Até surgir a ideia, apoiada pelos Serviços Distritais de Saúde de Caia e pelo Consórcio Associações com Moçambique, os doentes “mais afortunados” seguiam para o Hospital rural de carroça ou carrinho de mão.
A maioria dos pacientes estão infectados pelo VIH e alguns fazem já tratamento antiretroviral. Estamos em Sofala, um dos corredores do continente para o Oceano, terra de passagem de camionistas e de concentração de prostitutas. Há muito que Elias lhes diz que o prazer encerra perigos, que a camisinha salva vidas, que o futuro começa ali mesmo. Se o ouvem? “Uns sim, outros nem por isso!”
Se compensa? Com oito filhos em casa e pelo menos 20 seropositivos em cada 100 habitantes nesta província que é sua, como não?

Paula Borges,
história inédita, 2010

Jorge Silva
ilustração inédita, 2010

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