O “Homem garandi” veio buscar-me ao hotel. Eram horas de partir até Ilondé a 20 quilómetros de Bissau. Este “Homem garandi” era Carlos Robalo ou Neta Robalo. “Normalmente os guineenses têm mais do que um nome” respondia ele à questão levantada pelo meu olhar. Queria mostrar-me a escola dos seus sonhos e onde, desde 2004, cerca de duzentas crianças criam novos sonhos.
Na chegada à escola Boa Esperança, Neta Robalo parecia abrandar o passo como que saboreando a sua terra de memória, feita de terra vermelha, coberta por um mar imenso de cajueiros. Nesse dia havia um estranho silêncio. “Era dia de férias” explicou Neta Robalo. Nenhuma das salas de aula estava ocupada. “Conseguimos dinheiro para o depósito de água, para o painel solar, temos várias casas-de-banho, uma cantina, arranjámos subsídio para os professores não faltarem e até conseguimos envolver os pais neste processo... é esta a solução, sabes, a educação! O basquete permitiu-me sair daqui, abracei a profissão em Portugal e na Alemanha, mas aproveitei para aprender. É a única forma de se poder ter condições para mais tarde se poder fazer escolhas”. “E agora?” perguntei “ainda há muito que fazer, afinal ainda temos de criar um recinto desportivo” diz a rir, entrando numa das salas naquele andar arrastado de um jogador cansado, mas feliz porque este novo jogo à partida já estava ganho.
Agora percebem porque é que Neta Robalo é um Homem “garandi”...?!
Fernanda Almeida
história inédita, 2010
Rui Rasquinho
ilustração inédita, 2010
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