Hameeda é uma jovem sudanesa que vive refugiada no
Leste do Chade.
A sua aldeia, como muitas outras no Darfur, foi atacada
repetidamente, em 2006, por homens armados, identificados com as tribos de
nómadas. No passado, os choques entre as populações nómadas e os agricultores
ocorriam esporadicamente, quando as manadas de uns danificavam as culturas dos
outros. Mecanismos ancestrais permitiam às partes chegar a acordos de
compensação.
A guerra civil no Darfur, em que a desertificação e a
pressão sobre os recursos naturais, a terra e a água, também foram factores de
conflito, veio radicalizar a relação entre as comunidades. Os nómadas, em
virtude da sua aliança táctica com o regime em Cartum, sentiram-se com um novo
alento para atacar os agricultores. Face à violência, muitos agricultores acabaram
por procurar protecção nos campos de deslocados, no interior do próprio Sudão. Outros,
fugiram para o Chade. Tornaram-se refugiados.
Assim aconteceu com Hameeda e a sua família. Desde
criança, fora habituada a tratar dos campos e dos animais domésticos, a ir à
lenha e à água. Assim aprendeu a ser mulher e a cuidar da sua vida. Hoje, é
mais uma refugiada, vítima de guerra civil, assistida pela comunidade internacional.
Não perdeu, todavia, nem a dignidade nem a esperança de regressar à sua terra.
Victor Ângelo
história e foto inéditas, 2010