Como
muitos habitantes de Lago Agrio nascidos na extrema pobreza, o advogado Pablo
Fajardo Mendoza era um desconhecido até ao dia em que aceitou o desafio lançado
por um grupo de 30 mil pessoas para os representar num processo contra a
gigante petrolífera Chevron. Apesar da pouca experiência, aceitou.
Desde
então, o seu caminho assemelha-se ao imaginado na vida de um qualquer herói. Impossível
não pensar na heroína do livro de John Le Carré, Tessa Quayle, transformada em mártir
no Quénia quando defendeu os interesses de um grupo de pessoas transformadas em
cobaias, sem o saberem, por um gigante do sector farmacêutico que aí decidiu
testar um medicamento antes de o lançar no mercado.
Enquanto
“cidadão comum que se destacou por extraordinários feitos no mundo”, segundo a
CNN, a estação norte-americana distinguiu-o “Herói da CNN” em 2007. Fajardo,
galardoado com vários outros prémios ligados à defesa do ambiente, tem 37 anos,
cresceu a trabalhar nos campos e, só mais tarde, com persistência e mérito
completou os estudos secundários e o curso de Direito.
Lago
Agrio, pequena cidade colada à parte equatoriana da floresta da Amazónia,
repousa sobre um solo rico em petróleo. Aí, a Texaco entretanto comprada pela
Chevron perfurou centenas de poços em 23 anos de actividades em que lixo,
detritos e alguns tóxicos foram despejados, bem como água misturada com crude.
O resultado é um manto de poluição que terá contaminado os habitantes. Os
ambientalistas falam num dos locais mais contaminados do planeta ao ponto de já
ter sido apelidado de “Tchernobil da Amazónia”.
Um
cenário próximo do descrito, em ficção, no livro de Joyce Carol Oates, “The
Fall” (“Niagara”), em que o advogado Dirk Burnaby se envolve, até à morte, numa
batalha legal contra as companhias químicas da zona do Love Canal. Como Burnaby
face aos poderes locais corruptos instalados, Fajardo enfrenta, neste seu
primeiro julgamento, os colossos dos escritórios de advogados da Chevron, a
terceira maior companhia de petróleo dos Estados Unidos. Mas isso não o
intimida.
“Tomei
consciência de que não sou menos do que os advogados da Chevron. Na verdade, tenho
uma vantagem sobre eles: conheço os problemas como eles realmente são, porque vivo
aqui. E percebi que se assumisse a defesa do caso apenas teria de pensar como
dizer a verdade”.
Ana
Dias Cordeiro
a
partir do artigo publicado no jornal Público, 27 de Maio de 2009
Jorge
Silva
ilustração
inédita, 2010
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