A dar as boas vindas à Casa dos Jornalistas em Paris, a
associação que desde 2000 acolhe jornalistas que pedem asilo político em
França, está o sorriso de Jean Jacques Jarel, repórter do Gabão. É o seu
aniversário. Tem os olhos molhados de comoção: “Sou licenciado em filosofia,
mas nunca dei aulas. Tinha apenas 19 anos quando me tornei jornalista e durante
uma década trabalhei na imprensa escrita, na rádio e na televisão do meu país”.
Depois do entusiasmo das recordações de juventude, o seu sorriso apaga-se e
fala daquele telefonema: “Foge, andam à tua procura”, dizia uma voz do outro
lado do auscultador. “Era de manhã, há uns meses atrás, e tinha acabado de
noticiar que o nosso presidente estava doente, em recuperação num hospital em
Barcelona. A vocês poderá parecer estranho, o vosso país é democrático. Mas no
Gabão e em tantos outros países difundir notícias como esta leva-nos à prisão,
à tortura. Para o povo, o presidente deve representar a perfeição, o ‘Deus na
Terra’. Não é lícito conhecer o seu estado de saúde, os seus problemas. E se
alguém tenta informar, desencadeia uma perseguição. Mas eu fi-lo para informar
os meus compatriotas, porque era o meu dever. Para nós, os direitos humanos não
existem, a liberdade de imprensa é apenas uma miragem. E se queres ser jornalista
e não arriscar a vida, tens de acariciar a pele do poder”. O grande sonho de
Jacques é viver em Paris com a sua família e continuar a ser jornalista. “Estou
consciente que aqui será muito difícil, o mercado dos “media” é fechado. Assim,
inicialmente, vou procurar um trabalho que me permita viver. Gostaria de voltar
a estudar e tirar uma licenciatura na minha nova Pátria, porque aqui o título
‘made in Africa’ tem pouco valor”.
Vincenzo Sassu
história e fotografia inéditas, 2010
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