Já passaram 21 anos de espera. De silêncio para Ding Zilin, a fundadora e uma porta-voz das mães de Tiananmen. Na noite de 3 para 4 de Junho, Ding Zilin tenta todos os anos ir até ao sítio da cidade de Pequim, onde o seu filho foi morto pelos soldados do Exército chinês. Muitas vezes a polícia segue-a neste ritual em silêncio, o único que lhe é permitido juntamente com o marido.
Jiang Jielian tinha dezassete anos acabados de fazer e foi uma das muitas vítimas mortais do massacre em Pequim no ano de 1989. A juntar nomes desde 1990, Ding Zilin tem uma lista onde constam hoje, em 2010, 203 pessoas que morreram como resultado daquela noite. Mas a mãe de Tiananmen diz com segurança “há mais nomes para aparecer”.
A aproximar-se dos 74 anos, a mãe Ding Zilin diz todos os anos em carta aberta ao governo chinês e ao mundo, o que pretendem os pais, mães, viúvas e viúvos de Tiananmen. Querem que a verdade seja dita e que o nome das vítimas seja tornado público.
O pedido repete-se cada ano e a espera continua. Para o governo central, Tiananmen foi um incidente. Para Ding Zilin foi um massacre, a palavra que o governo proíbe toda a gente de usar. Apelidada de mãe coragem, a antiga professora de Estética de Arte mantém a grande fotografia do filho na sala do seu apartamento, vigiado 24 horas por dia por polícias à paisana. Ao olhar a imagem, Jiang, o filho, está na frente de um grupo de jovens de braços erguidos que como ele tentaram uma mudança. Ding revê aquele momento todos os dias. E garante que, enquanto viver, não vai ser ela que vai baixar os braços.
Maria João Belchior
a partir da reportagem para a TSF no 20.º aniversário do massacre de Tiananmen, “À Espera da Democracia”, 4 de Junho de 2009
Daniel Blaufuks
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