Tinha 15 anos. Conhecido como Turbo, a rua era a sua casa. Sobrevivia de pequenos biscates, como lavar carros e fazer recados aos moradores no quarteirão à volta do Hotel Mundial, no Largo Serpa Pinto, em Luanda.
Numa tarde de Janeiro de 1998, à saída do Hotel Mundial dou conta de burburinho na rua: o Turbo, algemado com as mãos atrás das costas, a chorar e rodeado de polícias procura defender-se da acusação de ter roubado um par de sapatos e o comando de uma parabólica. Aos gritos de “não fui eu, não fui eu”, os polícias respondem com agressões, pontapés e estaladas. Entretanto, uma carrinha da polícia de caixa aberta chega ao local e antes que consigam fazer subir o Turbo, este ensaia uma fuga.
Obviamente votada ao fracasso poucos metros depois. Um dos polícias alçou da espingarda a tiracolo e atingiu Turbo, por detrás, na face interior da perna esquerda.
Rapidamente levado para o Hospital Militar, onde é identificado, recebe os primeiros cuidados médicos e é recambiado para a esquadra na baixa de Luanda, junto à Sé.
Participado o caso à UNICEF, por ser menor, Turbo ainda chega a ser referenciado naquela esquadra, mas semanas depois, quando se intensificam as acções para o libertar a resposta vem seca e curta: “não temos aqui o registo de ninguém parecido”.
Eduardo Lobão
história inédita, 1998-2010
Maria Kowalski
ilustração inédita, 2010
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