20 de maio de 2012

semana 21
Sem sombra de pecado

“Chamo-me Olga Mariano. Sou uma mulher-árvore. Orgulhosa das minhas raízes e dos frutos que vão nascendo dos meus braços solidários. Trabalho para ajudar as outras mulheres e sobretudo as crianças. Sou uma mediadora sociocultural. Por ser mulher e, particularmente, por ser viúva, enfrentei muitas resistências para formar a AMUCIP, a primeira associação portuguesa de mulheres ciganas. ‘As viúvas estão vivas mas morreram’. Foi assim que o Jaír, um dos meus filhos, explicou a questão a um jornalista. É a tradição, compreende? Mas eles apoiaram-me, os três. Isso foi muito importante. Como eu costumo dizer, podemos ser quem quisermos, sem deixarmos de ser quem somos, sem abdicarmos da nossa cultura. Este é o desafio. Parece pouco mas não é. Nem para uma mulher-árvore, a quem nunca passou pela cabeça fazer sombra aos homens.
Sabe, nós as ciganas somos demasiado mães-galinha, levamos os filhos para todo o lado. A escola é a nossa saia, por assim dizer. A Sónia Matos, que também faz parte da associação e é auxiliar de acção educativa, acredita que, se mais ciganas começarem a deixar os filhos nos infantários, a relação com a escola poderá ser diferente. Eu concordo, até porque a venda ambulante, que tem sido o nosso principal meio de vida, não tem grande futuro, já se viu. Mas também é preciso que os professores e os outros pais percebam que a nossa cultura é especial. Os laços familiares são muito fortes e o luto é vivido de forma bastante intensa. Temos de nos conhecer todos melhor. E olhar para o exemplo espanhol. Deixe-me contar-lhe esta história. Uma mulher cigana casou-se aos 28 anos, depois de estudar Direito. Casou-se com um homem cigano, de acordo com a lei e toda a tradição cigana, mas primeiro formou-se. Hoje, marido e mulher trabalham em conjunto na câmara de Sevilha. Compreende onde quero chegar?”.

Olga Mariano, Fundadora da AMUCIP

João Paulo Baltazar
a partir de reportagem para a TSF “As passadas cautelosas das mulheres ciganas”, em Março de 2006

Javier Martinez
fotografias inéditas, 2010

Sem comentários:

Enviar um comentário