A
Frigoken, criada em 1989 nos arredores de Nairobi (Quénia) para exportar
vegetais frescos para a Europa, é uma fábrica que dá prioridade ao emprego a
mulheres e que se preocupa com a sida. Ali, embala-se feijão verde, exportado
para vários países europeus (incluindo Portugal, onde é vendido pela F.
Leclerc).
A
empresa começou por contratar a compra de feijão a 50 agricultores. Hoje, são
45 mil, em todo o país. A perspectiva é chegar aos 100 mil. Na fábrica,
trabalham três mil pessoas – quase todas mulheres –, além de mais 800
funcionários distribuídos pelos centros de recolha. A prioridade às mulheres
tem razão de ser, mesmo se alguns homens não gostam de vê-las trabalhar. “A
mulher empregada significa um suplemento no rendimento familiar. Com esse
dinheiro, cresce a qualidade de vida das famílias”, diz Karim Dostmohamed,
responsável da empresa.
“Elas
são mais responsáveis que os maridos a utilizar o dinheiro”, acrescenta Jim
Garnett, responsável operacional e um dos dois únicos estrangeiros da empresa.
Enquanto
vigia o processo de embalagem, Anne Malika, 36 anos, mãe solteira de um filho, confirma
que os doze anos na empresa lhe deram “estabilidade de vida”. Tabitha Khamala, 35
anos e três filhos, é analista de qualidade. Quando começou na Frigoken, há dez
anos, era ainda solteira. “Agora sou casada e capaz de tomar conta da família.
Consigo pagar a escola dos meus filhos. Fui privilegiada por poder usar a
creche da fábrica para o mais novo. Quando ele saiu, a professora disse que ele
estava avançado e pô-lo logo na classe seguinte”.
Através
das mulheres, passam outras mensagens: regras de higiene e segurança alimentar repetidas
são apreendidas, reproduzidas e levadas para casa. A empresa promove também um
programa contra o VIH/sida. “Fazemos visitas ao campo para falar aos
agricultores, com especialistas, médicos e enfermeiros, pessoas de organizações
especializadas e mesmo alguns portadores de VIH. O objectivo é remover o
estigma”, esclarece Garnett.
Para
completar esse processo, com a colaboração de uma organização católica, a
empresa promove, cada seis meses, testes gratuitos de despistagem da doença a
quem os queira fazer. “Só conhecemos os números”.
António
Marujo
a
partir de reportagem publicada no jornal Público, realizada a convite da rede
Aga Khan para o Desenvolvimento, 8 de Julho de 2008
António
Marujo e Faranaz Keshavjee
fotografias
inéditas, 2008
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